terça-feira, 18 de outubro de 2011

Mulheres negras

  O que é ser... Mulher negra no Brasil?


Diferentes idades, profissões e pontos de vista. A "dor e a delícia" de ser o que é, segundo elas:

produção Gisele Machado




Foto divulgação
Simone Nascimento, carioca, 
38 anos, produtora cultural
"EU GOSTO DE SER MULHER..."


"Você não é negra, é morena.
Não, sou negra sim!
Ah! Não faz isso, você é tão bonita!



Até hoje sinto um misto de graça e indignação quando lembro desse episódio. Foi há algum tempo, quando estava num salão fazendo as unhas. Estamos em 2011 e até hoje ouço coisas parecidas. Antigamente, eu entrava em debates, discutia, reclamava, a veia saltava e tentava ganhar no grito que ser negra era tão normal como branca ou amarela.
Hoje, não grito mais! Também não discuto, não entro em debates, ajo com atitude. Sou uma mulher feliz, realizada e encaro a questão do preconceito racial como mais uma luta que, infelizmente ainda vai levar muito tempo para ser vencida. E luto ao meu modo. Sempre circulei e frequentei vários lugares desde que me entendo por gente.
Já vi, ouvi e vivi muitas situações parecidas. Quando conto sobre esses momentos para os amigos, muitos não acreditam. Uns falam: "Você é exagerada, fala demais, isso não existe mais". Outros não comentam nada, mas respondem com o olhar de descrença ao que acabo de relatar. Mas só eu sei as experiências que ainda passo...
A diferença é que atualmente respondo com o meu trabalho, com o meu talento e competência. Fico ainda muito feliz quando reconheço em outras mulheres tão bonitas e negras, juízas, protagonistas, grandes executivas, bailarinas, defensoras, cantoras e tantas outras profissionais, que sentem orgulho da sua cor, e fazem disso a coisa mais natural do mundo, como se estivessem calçando os sapatos para irem ao trabalho todos os dias."


"VIEMOS DA ÁFRICA E NÃO DO GUETO"




Foto divulgação
"Na minha vida sempre fui cercada por muitas mulheres negras, de todas as idades, cores e realidades e, para mim, elas sempre foram todas completamente diferentes, até o dia em que cresci e percebi que, igualmente a elas, sou completamente diferente delas. E agora que estou pronta pra fazer a minha família, ter meus filhos para ensinar tudo que aprendi com elas (que foi tudo mesmo!) começo ter uma pequena ideia do que elas realmente são e tenho certeza que a cada dia mais sou igual a elas!
As mulheres negras são assim, diferentes, e é isso que nos faz iguais! Ser mulher negra no Brasil é ser forte, incansável, criativa. Inteligente, mesmo sem títulos acadêmicos. É ser mãe e pai, com ou sem filhos. É ser quente como o fogo que queima ou aquece e, ao mesmo tempo, como a água, que inunda ou hidrata. Ser afro-brasileira é SER! Nós somos e sempre seremos tudo o que quisermos.
E sempre somos tudo ao mesmo tempo, com uma força incansável e criativa e, em todos os momentos da vida, nunca nos esquecemos de onde viemos. Salve, Dandara, Clementina de Jesus e Laquixá. Nós viemos da África e não do gueto!"


"NÃO PODE VACILAR"


Madame Ainá Garcia, carioca, 28 anos, hair e fashion designer
Foto divulgação


"Mulher negra no Brasil é ser digna e ousada, sempre linda e não pode vacilar, porque as pessoas estão esperando qualquer descuido para poder dizer: "Viu, não falei?
O racismo no Brasil está longe de acabar e às vezes me pergunto se isso um dia será possível. Enquanto o fato não acontece, estou mostrando o meu trabalho, levando-o muito a sério, conquistando o meu espaço pelo meu talento e não pelo meu 'fisic du'role'. Estou ensinando a minha filha a nunca abaixar a cabeça, porque é isso que os racistas querem pra poder pisar na gente."
Priscilla Marinho, carioca, 27 anos, atriz



Mulheres negras

  O que é ser... Mulher negra no Brasil?



Diferentes idades, profissões e pontos de vista. A "dor e a delícia" de ser o que é, segundo elas

produção Gisele Machado



"UMA MISSÃO A CUMPRIR"




"O que é ser uma mulher negra no Brasil? É ter que a todo o momento mostrar que se é muito mais que 'samba e bunda'. É ter a necessidade de sempre estar atenta e pronta, pois, qualquer erro, pesa muito mais para nós. É carregar o estigma da inferioridade, embora saibamos do que somos capazes e do potencial que temos.
Somos obrigadas a aceitar cotas nas universidades e na publicidade, como se isso nos fosse dado de favor. É nosso por direito! Para completar a discriminação só está faltando assento reservado no ônibus e no metrô. (risos) Ser uma mulher negra no Brasil é ter, acima de tudo, uma história para contar, ter a raiz bem fincada nas nossas origens e uma missão a cumprir. Esta missão é ensinar os nossos filhos o orgulho de ser negro, de ter um passado - embora sofrido - de lutas , superações e vitórias, e não deixar que o preconceito envenene nossas vidas e que banalize a nossa cultura."



Eneida Barbosa, paulista, 44 anos, agente




"SIM, PODEMOS SIM!"





"A história da mulher negra no Brasil vem sendo marcada pela violação dos seus direitos e com inúmeros desrespeitos desde a época da escravidão, quando muitas eram usadas em diversos tipos de trabalho escravo, isso quando não eram estupradas pelos seus 'senhores'. Hoje, o que mudou? O que é ser uma mulher negra no Brasil?
Quantas atrizes, diretoras, roteiristas, empresárias, escritoras, jornalistas, dramaturgas e produtoras negras conhecemos? Um número que, com certeza, não condiz com a realidade quantitativa brasileira. Reflexo desse passado histórico? Também!
Como exemplo, vamos pegar um importante veículo de comunicação e arte: o cinema. Segundo pesquisa realizada pela cineasta Viviane Ferreira através do banco de dados de dois importantes sites sobre cinema nacional, temos os seguintes dados: 5 roteiristas brancas e nenhuma negra; 13 produtoras brancas e nenhuma negra; 42 diretoras brancas e nenhuma negra; 289 atrizes brancas para 20 negras. Por que uma atriz negra não pode fazer o papel de uma empresária de sucesso com família, ou qualquer outro personagem que fuja dos estereótipos convencionais?
Para mim, ser mulher, negra e cidadã brasileira hoje, tem como primeiro passo a consciência dessa realidade. Mas não para ficar simplesmente com os braços cruzados, reclamando de falta de espaço e oportunidade ou vivendo como num campo de batalha, e sim para propor ao mundo das mais variadas formas uma mudança de paradigma em relação à mulher negra, seja quando estou atuando ou quando estou empreendendo um projeto. Vamos ocupar os espaços que, um dia, muitos acharam ou acham que não podemos ocupar: a universidade, a biblioteca, o teatro, o cinema, a televisão, o governo... Vamos ocupar, usando de toda a criatividade, dignidade e sabedoria. Como um mulher negra e brasileira, espero que possamos - independentemente de raça ou sexo - através do nosso papel na sociedade contribuir para alavancarmos mudanças de paradigmas benéficas à humanidade e para as próximas gerações, para que tenhamos um Brasil mais justo e democrático, aproveitando o início dessa nova era que se inicia."


"NÃO SOMOS SOMENTE CARNAVAL"




Maria Gal, soteropolitana, 35 anos, atriz e empreendedora cultural

Foto divulgação


"Fui criada num ambiente que não me proporcionava interesse para solucionar as agressões físicas e psicológicas que sofria. Os apelidos e brincadeiras maldosas eram acontecimentos constantes. Na escola, 'o meu falar' era só para confirmar que estava presente, o meu olhar, quando não estava direcionado para baixo, era para o quadro. Brincadeiras, só em casa...
Os professores não desenvolviam projetos visando à causa negra. Meus pais não tinham oportunidade de um diálogo mais aberto. Residi em um círculo do medo, onde me fechava para tudo o que vinha de fora dele. Não conseguia achar um meio em que pudesse ser vista e ver além daquilo que estava contido neste círculo.
Comecei a mudar e a construir minhas próprias ideias quando desenvolvi o meu intelecto. Decidi abrir a minha mente para o mundo e pude ter a percepção de que negros também podem, fazemos parte da história! Ser uma mulher negra é saber valer as conquistas, é acreditar e lutar em prol da igualdade, é agregar valores de conduta em nossas ações, exaltar a beleza do intelecto e não somente a física. É ocupar lugares de destaque, mostrando ao mundo que não somos somente carnaval, somos mulheres executivas, empresárias e negras, acima de tudo orgulhosas e conscientes do "amor e da autoafirmação de sermos pretas."



Eduarda Santos, 17 anos, capixaba, estudante

   As divas negras

Grandes estrelas da música, da dança e do cinema subiram aos palcos das mais importantes casas de espetáculo do país, levantaram plateias e deram ainda mais brilho a momentos áureos na área cultural.
Por: Sandra Almada



  Josephine Baker, Sarah Vaughan, Ella Fitzgerald, Dorothy Dandridge, Joyce Bryant, Eartha Kitt, Lena Horne e Katherine Duram. Da década de 50 até os anos 80, o Brasil viu passar pelo país, como cometas radiantes, cerca de uma dezena de artistas negras internacionalmente célebres. A maioria – instintivamente ou não – também fez questão de ir ao encontro daquilo que as identificava, de alguma maneira, com a realidade e a cultura afro- brasileiras. Houve também quem, durante a estada no país, tenha vivido amores, arrumado confusões e atritos com a imprensa. No livro As divas no Brasil, o autor Evânio Alves – afrodescendente assumido – traz histórias e fotos que registram as visitas de cerca de 80 celebridades estrangeiras ao país. Sucesso de púbico e crítica, a narrativa sobre as divas negras incluída no livro ganham destaque nas páginas da RAÇA BRASIL.





                        Lena Horne















































“Não foi do café, não foi do Pelé, nem do 
carnaval, foi da Bossa Nova que mais gostei
no Brasil.” A declaração é da atriz negra 
americana Lena Horner, dada aos 
jornalistas da revista O Cruzeiro, durante 
entrevista concedida no hotel Copacabana
Palace, no Rio de Janeiro, em 1960. Turner
estava em turnê no país, e, naquele dia, também confessaria aos profissionais de imprensa quem 
era seu grande ídolo no Brasil: o jovem 
compositor e cantor João Gilberto, não 
muito conhecido naquela época. Os jornalistas 
se apressaram em aproximar os dois artistas. 
Foi um encontro de talentos que trouxe grande felicidade à estrela. Lana, aliás, não vivia uma 
boa fase na vida pessoal e profissional quando 
chegou aqui. Apesar de viajar ao lado do marido, 
não estava bem no casamento. “Sua carreira 
estava em fase difícil, uma vez que, depois de 
ser acusada de ser esquerdista
pelo Comitê de Atividades Antiamericana,
ficou sem trabalho no cinema. Com isto, a artista tinha  que se manter para arrecadar dinheiro e já havia quatro anos que não fazia um filme”, diz Evânio.
Mas os brasileiros amaram a voz aveludada e a presença cativante desta mulher talentosa, delicada
e guerreira.


Josephine Baker 


Era o ano de 1929. O ator Grande Otelo, então um menino de 11 anos, conseguiu driblar a segurança do teatro do Lord Hotel, em São Paulo, onde a americana Josephine Baker se apresentava. Ele, assim como centenas de pessoas, queria ver "Vênus Negra". Assim a artista ficara conhecida, depois que seus shows no Folies-Bergére, em Paris, a lançaram para o sucesso mundial como uma das rainhas do vaudeville. na França tinha 20 anos e chegava ao Brasil na sua primeira turnê internacional.
Antes de subir ao palco, em São Paulo – onde foi censurada pela Igreja por apresentar-se praticamente nua – Miss Baker havia feito shows no Teatro Cassino, no Rio de Janeiro. Dez anos depois, em 1939, ela e Otelo dividiriam o mesmo palco, como protagonistas do espetáculo Casamento de Preto.

Josephine Baker, pintura de Evânio Alves

Tão talentosa quanto intempestiva, Josephine aprontou muito por aqui. 
Mas  outro    lado      da   artista   também   deve   ser   destacado:   o 
compromisso assumido ao  longo  de  toda  a  vida  com a defesa dos 
direitos humanos, principalmente através da luta racial. “Após abandonar 
o seu país, voltou lá por duas vezes e nestas duas visitas sofreu terríveis 
atos de preconceito. Apesar do sofrimento pela humilhação, Josephine 
nunca baixou a cabeça e, como exemplo, adotou 12 crianças 
de nacionalidades diferentes para mostrar que a humanidade podia 
viver em harmonia”, conta Evânio.







Ella Fitzgerald 


Ella Fitzgerald se apresentando em São Paulo, em 1960




Marilyn Monroe, nem todos sabem, teve papel decisivo na carreira da mundialmente famosa Ella Fitzgerald. “Ainda no início de estrada desta notável cantora afro-americana, Marilyn propôs ao proprietário do famoso e bem frequentado restaurante Mocambo, em Nova Iorque, que contratassem Ella para se apresentar lá. Marilyn ocuparia uma mesa todas as noites.



Ella Fitzgerald, no Hotel Jaraguá, em São Paulo














” E assim a atriz o fez, ajudando a alavancar a frequência da casa para tornar mais conhecida uma das maiores divas do jazz. Miss Fitzgerald chegava ao Brasil em 1960, e, por aqui, a repercussão de sua visita e turnê foi estrondosa. Ibrahim Sued, um dos maiores nomes do jornalismo na época, não poupou elogios: a apresentação da diva no Golden Room do Copacabana Palace estava entre as mais espetaculares que já assistira. A estrela negra também se apresentaria em São Paulo, no palco do teatro do Hotel Jaraguá. Outro grande sucesso. Ella voltaria ao Brasil 11 anos depois. Em 1981, dedicaria um disco a Tom Jobim, interpretando magistralmente as canções do artista brasileiro, que muito admirava.



   As divas negras

Grandes estrelas da música, da dança e do cinema subiram aos palcos das mais importantes casas de espetáculo do país, levantaram plateias e deram ainda mais brilho a momentos áureos na área cultural
Por Sandra Almada




Katherine Duram

Em 1951 foi a vez da famosa bailarina afro-americana Katherine Duram se apresentar no palco do Teatro Municipal de São Paulo, um dos mais importantes do país. Coreógrafa, compositora, educadora e ativista destacada na luta pela igualdade racial nos Estados Unidos, Duram era conhecida como a “Rainha mãe da dança negra”. Criadora e dirigente da Katherine Duram Dance Company, a americana viajou pelos quatro cantos do mundo, formou e influenciou gerações de bailarinos. No Brasil, além de muitos aplausos em reconhecimento ao seu grande talento, a moça levou consigo na volta à sua terra natal uma constrangedora situação de discriminação. Diferentemente da recepção dada às estrelas internacionais de seu porte, um dos grandes hotéis de São Paulo, o Esplanada recusou ter Katherine como hóspede. Miss Duram, indignada, convocou a imprensa nacional, como explica Evânio: “A repercussão foi tão grande que atingiu jornais, revistas e até a televisão. Esta reivindicação da artista negra foi válida, pois, no mesmo ano, exatamente no dia 3 de julho de 1951, a Lei Afonso Arinos foi aprovada no Brasil, proibindo a discriminação racial em locais públicos.”


Dorothy Dandridge


As comparações entre a linda e talentosa atriz e cantora negra norte-americana, Dorothy Dandridge e a platinum blonde mais famosa do mundo, Marilyn Monroe, eram inevitáveis. Dorothy era extremamente sensual, mas, atrás do glamour, assédio e sucesso que marcaram sua vida pública, sofria com desilusões amorosas, era deprimida, solitária e suicidou-se com apenas 41 anos. “Miss Dandridge se destacou de forma impressionante entre as atrizes de Hollywood que tinham pele clara e que era, a maioria delas, devido à beleza, sinônimo de bilheteria garantida”, conta o autor de Divas no Brasil.Primeira mulher negra a ser indicada pela Academia de Hollywood ao prêmio de melhor atriz, em 1952, por sua atuação em Carmem Jones, a versátil estrela afro-americana, que iniciara sua carreira atuando ao lado de Louis Armstrong, chegou ao Brasil em 1953. Vinha para apresentações no teatro Golden Room do Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. Profissional exigente e meticulosa, checava, nos ensaios, iluminação, figurino, palco, tudo. E, quando se abriam as cortinas, recebia o retorno de seu profissionalismo e talento com aplausos e ovações. No Brasil, conheceu e viveu um fugaz affair com o físico nuclear Oto Oppeinheimer, que ajudou no desenvolvimento da energia 

atômica e vivia na mira do FBI.


A linda afrodescendente também se entregou a uma paixão brasileira e sofreu com a desilusão amorosa: assim como muitas mulheres negras de diferentes nacionalidades, Miss Dandridge, apesar da fama, não queria ser apenas amante de um homem casado. Mesmo sendo ele um banqueiro brasileiro milionário que a cobria de mimos e presentes caros.

  Afros sim, e com muito estilo

MAIS DO QUE SIMPLESMENTE CORTAR, PENTEAR E APLICAR PRODUTOS, É PRECISO SER DESCOLADO PARA DESFILAR COM OS VISUAIS QUE APRESENTAMOS NESTA MATÉRIA. ESTES PENTEADOS AFROS FORAM CRIADOS E FINALIZADOS PELAS TRANCISTAS DA ONG SEMPRE AMIGOS EDUCACIONAL DE SÃO PAULO. AGORA É COM VOCÊ: SAIA POR AÍ FAZENDO MUITA GENTE VIRAR O PESCOÇO...

POR CIDA SILVA
FOTOS: MARCELLO GARCIA






A modelo Isabella Victorino, 17 anos, é especializada em trança afro. "Adoro meu novo look: o dread me deixa estilosa. Compõe o meu visual 100% black", sorri a negra gata, que é camaleoa e vive mudando. Ela garante que os cuidados com o dread são os mesmos de quando está com cabelo normal. "Basta tratar, lavar com xampu sem sal e condicionador para cabelos quimicamente tratados. E com uma vantagem: o dread ajuda no crescimento."


"Adoro meu novo look: o dread me deixa estilosa. Compõe o meu visual 100% black"




O cacheado natural e armadão de Michelle Lima foi trançado na lateral com fitas coloridas. "Ficou descontraído e ao mesmo tempo romântico", sorri a estudante de 17 anos. Como ela cuida do cabelo? "Uso xampu e condicionador específicos. E após passar creme sem enxágüe, separo as mechas com os dedos para ficar com volume mais comportado e cachos definidos."




"Ficou descontraído e ao mesmo tempo romântico"




Alex Costa discorda da máxima de que é dos carecas que elas gostam mais, por isso optou pelo cabelo comprido. "Ele já faz parte do meu estilo. Com um visual desse, não tem como não se dar bem com as garotas", sorri o modelo de 20 anos, que costuma hidratar o cabelo uma vez por mês. O resultado? Bárbaro!


"Ele já faz parte do meu estilo. Com um visual desse, não tem como não se dar bem com as garotas"




Yuri Zalcbergas, baiano de 22 anos, estuda comunicação social. É ele o responsável por este look. "Já estou acostumado", garante. "Divido em mechas de duas em duas e tranço." O segredo para estar sempre de bem com o espelho? "Uma vez por semana aperto os dreads com agulha de crochê." Para dar o toque final, aneizinhos prateados nas trancinhas. "Adoro meu cabelo. É uma forma de expressar como eu sou. Meus gostos, minha filosofia de vida."


"Adoro meu cabelo. É uma forma de expressar como eu sou. Meus gostos, minha filosofia de vida"

 Afros sim, e com muito estilo



MAIS DO QUE SIMPLESMENTE CORTAR, PENTEAR E APLICAR PRODUTOS, É PRECISO SER DESCOLADO PARA DESFILAR COM OS VISUAIS QUE APRESENTAMOS NESTA MATÉRIA. ESTES PENTEADOS AFROS FORAM CRIADOS E FINALIZADOS PELAS TRANCISTAS DA ONG SEMPRE AMIGOS EDUCACIONAL DE SÃO PAULO. AGORA É COM VOCÊ: SAIA POR AÍ FAZENDO MUITA GENTE VIRAR O PESCOÇO...

POR CIDA SILVA
FOTOS: MARCELLO GARCIA








Camila Bertolino, 16 anos, é trancista da ONG Sempre Amigos (SP). Ela vive rindo à toa: ganhou do tio um salão montado para trabalhar. "Mesmo com esses detalhes afros, uso xampu e condicionador para cabelos secos e hidrato a cada 15 dias." Ela refaz as tranças no cabelo natural, semana sim, outra não. O toque final é enrolar lã colorida para exibir um alto-astral.



"Adoro meu cabelo! Desta vez escolhi deixar as minhas trancinhas coloridas, para combinar com a minha alegria de viver"







"Faço da minha cabeça um templo de arte", brinca o paulista Nilton Moraes, 28 anos. É ele quem cria essas trancinhas para exibir um penteado diferente. Nilton separa o cabelo em mechas, torcendo-as uma a uma, junto com a lã. O corte é assimétrico. Na finalização ele passa cola especial da raiz até a ponta. "Daí o efeito-parafuso, para ficar original. E também pelo mercado de trabalho." O rapaz faz a diferença trabalhando como modelo.



"Faço da minha cabeça um templo de arte"






A pedagoga Andréa Oliveira, 26 anos, mantém os fios naturais, sem química. Lava dia sim, dia não, com xampu específico do próprio cabeleireiro que freqüenta. E hidrata uma vez por mês no salão. "Esse look é tudo!", sorri, satisfeita, após ver o resultado do trabalho da "trancista" que entrelaçou a parte da frente do cabelo com cetim colorido.


"Este look é tudo! Sempre causa impacto!"

  Mulheres Negras em destaque
Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha é celebrado em grande estilo

Por Brunno Braga | Fotos Xan



Durante cinco dias, o evento Da cor, da Raça, Nação Mulher - organizado pela Base Rio, no Centro Cultural Ação da Cidadania - celebrou e exaltou o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, reunindo música, moda, culinária e palestras que trataram da importância da mulher negra na composição social da região, dando o tom da diversidade temática existente. "É na força dos nossos maiores expoentes culturais que buscamos inspiração para continuar lutando por nossos ideais e sonhos. Nesse cenário, a mulher negra tem fundamental importância como força de resistência e cultura", explica a organizadora Rose de Oliveira.
Adriana Baptista, Flavia Oliveira, Lia Vieira e Gloria Santos. Palestra sobre o empreendedorismo feminino
A festa, que contou com nomes conhecidos no cenário musical, como Alcione e o Grupo Revelação, foi bem avaliada. A atriz Sonia Braga marcou presença e disse que iniciativas como essa são mais do que válidas na busca por igualdade e representatividade da mulher negra. "Vim a convite da Margot Mello (estilista do ateliê Cortiço) para o desfile com temática da mulher africana. Achei lindo e emocionante ver modelos negras lindíssimas." Sonia afirmou que sempre esteve envolvida em causas que lutem contra injustiças, e a luta pela promoção da mulher negra é um delas. "A cara da mulher negra é a cara do Brasil. Fico muito feliz que atrizes negras, agora, tenham mais espaço em novelas."
Margott Mello fez coro com a atriz. "É inaceitável a falta de modelos negras nas passarelas do Brasil. Muitos estilistas dizem que procuram e não acham. Nós somos a prova de que isso não é verdade, pois só no Rio de Janeiro existem inúmeras meninas com 1.76m que podem desfilar para qualquer grife aqui no Brasil." Margott baseou o seu desfile na histórica rainha Ginga, guerreira que lutou contra a invasão portuguesa em Angola. Para representá-la, a estilista convidou a atriz e cantora Maria Ceiça, que, além de desfilar, cantou músicas angolonas no idioma kimbundu, um dos mais falados no país. "Eu tenho profundas relações com Angola, já fui muitas vezes ao país e vejo grandes similaridades entre a mulher angolana e brasileira. A história da Rainha Ginga é bastante emblemática, pois simboliza a força da mulher negra", disse a atriz que, em breve, estará na telas dos cinemas no filme O Grande Kilapy, uma coprodução brasileira- angolana-portuguesa, dirigido pelo angolano Zezé Gamboa e com Lázaro Ramos como protagonista.

Alcione foi uma das grandes atrações musicais
 
A atriz Ilea Ferraz encenando a peça O Cheiro da Feijoada


 
 
  Mulheres Negras em destaque
Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha é celebrado em grande estilo

Por Brunno Braga | Fotos Xan


LUTA PELA INCLUSÃO
Instituído pela Organização das Nações Unidas em 1992, após encontro que reuniu 70 países, o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha tem como objetivo levantar temas e trazer discussões que visem analisar os desafios enfrentados pelas afrodescendentes na região. No Brasil, apesar dos avanços, alguns números mostram que a mulher negra anda sofre dentro de um processo de exclusão social. De acordo com estudos divulgados recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 28,19% das mulheres negras de 15 anos ou mais não sabem ler ou escrever, enquanto entre as brancas esse índice é de 9,9%. No entanto, o fosso entre gênero e raça torna-se mais evidente no mercado de trabalho. As mulheres negras predominam no trabalho doméstico com 35,53%, enquanto a mulher branca representa 15,69% (dados do IBGE/PNAD, 2002).

Maria Ceiça, representando a Rainha Ginga
Para a secretária de Comunidades Tradicionais da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República, Ivonete Carvalho, o evento veio ao encontro das propostas de políticas de inclusão desenvolvidas pelo governo federal. "A questão da mulher negra tem sido uma prioridade em nossa gestão desde a criação da SEPPIR, em 2003, quando tivemos o privilégio de ter uma mulher negra como primeira ministra, que foi a Matilde Ribeiro. Para as mulheres negras, esse é um passo extremamente importante e, hoje, eu tenho a responsabilidade de coordenar as políticas para as comunidades tradicionais em nível nacional. O Da Cor, da Raça, Nação Mulher é extremamente importante com as inúmeras atividades propostas e suas refl exões. Vamos continuar essa caminhada juntas, nos somando aos projetos das comunidades tradicionais do Rio de Janeiro para contribuir para que a mulher negra seja protagonista nesse processo, explicou Ivonete. Adriana Baptista, contratada pela Base Rio para coordenar as palestras no evento, disse que o saldo final foi bastante positivo. Divididos por temas que versavam sobre educação, beleza, saúde, políticas públicas e batizado de "Rodas de Conversas", o objetivo era dar um ar menos sisudo aos debates, deixando os participantes à vontade como se estivessem numa roda de amigos, contando suas experiências de vida, preocupações com saúde e dicas sobre empreendedorismo. "Todo o cenário foi pensado para que as convidadas (palestrantes) se sentissem na varanda da casa de uma amiga. A ideia era quebrar o gelo normalmente imposto pela sobriedade dos auditórios das universidades. Queria mostrar para a plateia que todas aquelas mulheres, em algum momento de suas vidas, se cruzavam com as nossas trajetórias.
No encerramento do evento, o momento de grande emoção contou com a participação da premiada escritora Conceição Evaristo, e uma homenagem à Vó Maria pelos seus 100 anos de vida. Segundo Adriana, a festa Da cor, Da raça, Nação Mulher foi inspirada no projeto cultural desenvolvido por Vera Mendes, fundadora do Bloco Afro Agbara Dudu, no início dos anos 80, no Rio de Janeiro. "A exemplo do Olodum e Ylê Ayê, em Salvador, ela trouxe esse conceito de festa de exaltação e resistência da cultura negra. O nome era a Noite da Beleza Negra, que chegou a reunir 10 mil pessoas em espaços como Clube Renascença, quadras da Portela, Império Serrano. Era o evento mais esperado do ano. Tinha tudo num só lugar: música , desfiles, artesanatos, moda afro, comidas típicas. E muita gente bonita e feliz."
Rose de Oliveira (de blusa colorida), organizadora do Da cor, Da raça, Nação Mulher, e a equipe da Base Rio




  Mulheres Negras em destaque
Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha é celebrado em grande estilo

Por Brunno Braga | Fotos Xan



O protagonismo quilombola
"Nenhum direito a menos" foi o slogan do IV Encontro Nacional das Comunidades Quilombolas
, entre 3 e 7 de agosto, no Rio de Janeiro. O evento foi realizado pela Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), organização que representa os quilombolas do Brasil. A CONAQ foi criada em maio de 1996, durante reunião de avaliação do I Encontro Nacional de Quilombos. O evento teve o objetivo de fortalecer a luta pelo direito à terra, ao desenvolvimento sustentável e à igualdade e a dignidade.
"Valeu o esforço de várias entidades e pessoas para a realização desse V Encontro Nacional Quilombola. Está mais do que assegurado o protagonismo quilombola e a certeza de que a luta de nossos antepassados não foi em vão. Todo o acúmulo de luta está presente entre os quilombolas que, por sua vez, têm procurado sensibilizar vários setores da sociedade. Não devemos ter dúvida, os quilombos são patrimônios culturais que têm como pano de fundo a defesa da dignidade e resistência politica ancestral", disse a ex-ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, uma das convidadas.
Seminário e shows
Para comemorar seus 23 anos, a Fundação Cultural Palmares realizou de 16 a 18 de agosto o Seminário Nacional - A cultura como veículo de erradicação da miséria. A ministra da SEPPIR, Luiza Bairros participou da abertura do evento, que contou ainda com autoridades, especialistas e militantes do movimento negro. Organizados em grupos de trabalho, os participantes debateram cada um dos eixos temáticos: cultura, inclusão social e cidadania; cultura: erradicar a miséria e ampliar a cidadania; e juventude negra e o legado cultural afro-brasileiro. Encerrando a programação, a homenagem ao ativista negro Abdias Nascimento emocionou a plateia do Teatro Nacional, que ainda guardou fôlego para os shows da cantora Leci Brandão e do rapper GOG.


http://racabrasil.uol.com.br/cultura-gente/158/artigo228127-3.asp

 
  Nossa musa do Pan!
"Posar para a Playboy? Eu? Não, não!", responde bem- humorada a capitã da seleção brasileira de voleibol feminino, Fabiana Marcelino Claudino, rindo, meio acanhada, meio divertida, com a pergunta quase inevitável. Afinal, ao se conhecer pessoalmente a jovem atleta, não dá para conter a curiosidade. Fabiana é, de fato, linda e exuberante nos seus 26 anos e 1,93 de altura.

Por Sandra Almada | Ensaio Marcos Serra Lima



Portanto, fica difícil não se pensar nas outras chances que certamente ela teria fora das quadras do esporte que a tornou mundialmente conhecida. "Sou uma menina muito religiosa, católica. Não me sentiria bem, não é a minha cara", continua a falar, ainda risonha, a moça que nasceu e cresceu na cidade de Santa Luzia, em Minas Gerais


Fabiana Claudino exibe, entre os títulos conquistados, o de campeã olímpica nos Jogos de Pequim, em 2008, e comanda a seleção considerada uma das mais fortes do planeta. E, se posar nua não é a dela, quando o assunto é sua própria beleza, Fabiana admite outras possibilidades. "Mas é claro que aceitaria trabalhar como manequim, como modelo. Na verdade, adoraria. E acho que dá pra conciliar as coisas", assume, num tom de voz sugestivo, jeito brejeiro, e que parecem deixar no ar a mensagem: "estou aguardando propostas". Enquanto uma carreira paralela ao vôlei não deslancha, a atleta acumula sucesso e muito trabalho nas quadras.. Este mês, Fabiana é um dos destaques da seleção feminina de volei que disputa os jogos Pan-Americanos de Guadalajara, no México. Agora, conheça mais sobre a nossa "Musa do Pan". Uma jovem mulher negra, forte, determinada, exuberante, consciente e talentosa. Ah, sim, e com grandes chances de virar top model.

"O ESPORTE É O CAMINHO DOS SONHOS, DO QUAL VOCÊ NÃO PODE NUNCA DESISTIR. TEM QUE SEGUIR LUTANDO, GANHANDO OU PERDENDO"


Uma liderança
Econômica nas palavras, mas expansiva em simpatia, Fabiana conversa com a repórter da RAÇA BRASIL enquanto coloca as últimas peças na mala antes de seguir para o aeroporto. A jogadora está hospedada na casa dos pais, em Belo Horizonte, curando-se de um forte resfriado. O voo que sairá de Confins tem como destino o Rio de Janeiro. Depois de aterrissar na cidade em que mora há anos, Fabiana seguirá para Saquarema, na região dos Lagos. Lá, no centro de treinamento da seleção brasileira, a atleta se juntará às demais jogadoras. Foram, aliás, estas mesmas "meninas" que decidiram, por voto secreto, que Fabiana deveria capitanear, na quadra, a equipe. "Eu sabia que gostavam de mim, mas confesso que fiquei surpresa com esta votação", admite, com humildade, a "meio de rede", posição que a jogadora ocupa no time, cujas funções são, simultaneamente, o ataque e o bloqueio. "Tinha ideia da confiança que depositavam em mim, mas mesmo assim não achava que seria escolhida para liderar a equipe", reafirma a atleta. Para os não familiarizados com o mundo dos esportes, vale explicar que, escolher o líder de um time é o tipo de decisão que cabe, de modo geral, aos técnicos. Em 2010, entretanto, José Roberto Guimarães, atual dirigente da seleção de vôlei feminino, resolveu mudar as regras do jogo. Com isto, Fabiana ganhou a tarja de comando que usa presa num dos braços durante os jogos. Perguntada sobre quais de suas qualidades ela acha que contaram para ser eleita a líder da seleção brasileira, Fabiana exibe humildade: "Acho que foi a alegria, o meu jeito: gosto de brincar, de me divertir. Eu brinco muito com todas as meninas dentro da quadra. Se eu puder dar este conforto, esta alegria, fico feliz. Quem deve ficar estressado é o técnico, não as jogadoras", brinca, dando um belo exemplo daquilo que, no mundo do trabalho, é considerada uma qualidade das mais elogiáveis: a "inteligência emocional". Capacidade de controlar as emoções e usá-las na dose certa em momentos de tensão, de decisões importantes. As meninas do vôlei brasileiro pensaram nisto na hora de escolher a amiga "Fabizona" - apelido da atleta - como capitã.


"EU, JÁ NA 8ª SÉRIE, NÃO CONSEGUIA FREQUENTAR A ESCOLA TODOS OS DIAS. TAMBÉM NÃO CONSEGUI CONCLUIR NEM O SUPLETIVO. MAS ESTUDAR É UMA COISA QUE EU GOSTARIA DE CONTINUAR"


Fabiana, com 5 anos
Talento precoce
É bem verdade também que a experiência conta muito na escolha de um líder. E Fabiana Claudino vem acumulando disputas de finais de campeonatos importantes há oito anos, tempo em que integra o seleto quadro de jogadoras da equipe maior do vôlei nacional feminino. Foi em 2002 que a central ingressou na seleção brasileira, com seus tenros 18 anos. A carreira de desportista havia começado cinco anos antes, em 1998, quando a filha de Seu Vidal e Dona Maria do Carmo conseguiu, com apenas treze anos de idade, uma vaga na equipe de voleibol do Clube MVR, em Minas Gerais. "Foi dali que comecei a jogar vôlei. E nem fiz teste, já que, por causa da altura, eles se interessaram logo por mim. Só pediram para eu levar a (carteira de) identidade", lembra Fabiana, que, aos 15 anos, mesmo ainda pertencendo à equipe infantil do MVR, "já entrava em quadra para treinar com as atletas adultas."

Também no caso de Fabiana, como no de todos os grandes atletas, o sucesso nas quadras cobraria um preço alto. Entre saques, cortadas, manchetes, bloqueios e levantamentos, a pré-adolescente - que ganharia, em 2009, o título de "Melhor Levantadora do Grand Prix - costumava cumprir uma árdua rotina de treinamentos diários. "Eu, já na 8ª série, não conseguia frequentar a escola todos os dias. Também não consegui concluir nem o supletivo. Mas estudar é uma coisa que eu gostaria de continuar." E que curso gostaria de fazer a capitã brasileira? "Psicologia infantil", diz Fabiana, sem titubear.

  Nossa musa do Pan!
"Posar para a Playboy? Eu? Não, não!", responde bem- humorada a capitã da seleção brasileira de voleibol feminino, Fabiana Marcelino Claudino, rindo, meio acanhada, meio divertida, com a pergunta quase inevitável. Afinal, ao se conhecer pessoalmente a jovem atleta, não dá para conter a curiosidade. Fabiana é, de fato, linda e exuberante nos seus 26 anos e 1,93 de altura.

Por Sandra Almada | Ensaio Marcos Serra Lima



Estímulo e cuidados na infância
No Brasil, uma boa parcela dos pais de atletas negros vê no esporte a saída para uma infância pobre e sem muitas perspectivas de futuro para os filhos. Mas este não foi o caso de Seu Vidal e Dona Maria do Carmo. "Graças a Deus, na infância, nunca me faltou nada!", admite Fabiana. Nem a ela, nem ao irmão Bruno, que hoje, aos 29 anos, mora e trabalha nos Estados Unidos. Mas os pais avisavam à menina que era bom tomar cuidado com o mundo. Assim como lhe advertiam: "Você é negra, precisa andar sempre bem arrumadinha", conta a moça. Será que não foi de todo este cuidado com a aparência e da vaidade estimulada na infância que fez surgir, na mulher Fabiana, o atual desejo de exibir sua beleza nas passarelas e páginas de revista? "Eu queria ser modelo desde muito novinha. E as pessoas estimulavam isto", relembra sorridente a atleta. "Agora, mais recentemente, o fotógrafo Marcos Serra Lima me disse: 'Você tem que fazer um ensaio'. E era isto mesmo o que eu queria: fazer um book", confessa a jogadora, que posou para as lentes de Marquinhos feliz da vida. E agora, com o book de baixo do braço, já pode dar os primeiros passos na direção de seu sonho de infância.



Abaixo: Aos 17 anos, no MRV Minas e campeão mundial juvenil; e em dois momentos de ouro (com a medalha, logo após a nal olímpica, e na chegada ao Brasil
Acima, Fabiana, o irmão Bruno, e os pais, Vidal e Maria do Carmo. Momento em família

Seja como mulher ou como promissora profissional das passarelas, para Fabiana manter o corpão de tirar o fôlego, o vôlei tem sido um aliado e tanto. Os treinos e a performance nas quadras dão à moça pernas, bumbum e braços fortes e muito bem torneados. Já a pele, Fabiana entrega aos cuidados da prestigiada dermatologista Katleen Conceição. Mas não é só sob orientação médica que a atleta desenvolve seus rituais de beleza. A jogadora confirma ter hábitos semelhantes aos da jornalista Glória Maria, outra aficionada por cremes, a ponto de, dizem, ter uma geladeira cheia deles. "Também sou assim", confessa Fabiana. "Sou muito vaidosa. Gosto de cuidar da minha pele, de usar muitos cremes. Tenho muita coisa na bolsa", acrescenta.


A invisibilidade dos negros brasileiros
Bem-sucedida na carreira, no final deste ano, a meio de rede vai se despedir do Brasil. Não pra sempre, é claro. A ausência dura o tempo em que vigorar um novo contrato em terras estrangeiras. Ela vai rumar para Istambul, na Turquia, para jogar no Fenerbahçe Acibadem, time que será comandado pelo técnico brasileiro José Roberto Guimarães, o mesmo que treina as meninas da atual seleção brasileira. "Foi maravilhoso ter recebido este convite do clube, assim como poder trabalhar ao lado de alguém que a gente conhece e em quem confia". A carreira internacional, aliás, sempre foi um sonho para esta grande atleta. Ela sabe que merece o que vem recebendo em termos de reconhecimento e salários generosos, digamos assim. "Estou muito bem de vida. Não vou mentir", ela afirma, entre risos, sem esconder a satisfação com o próprio êxito. "Agradeço a Deus pelo que me deu até hoje. E pretendo continuar prosseguindo, me empenhando, lutando sempre."

Mas será que tudo são flores no caminho de uma atleta negra? A cortadora antecipa que, apesar das advertências dos pais na infância, ela nunca sofreu na pele a discriminação racial, nem dentro nem fora das quadras. "Sinceramente, nunca sofri racismo na minha vida. Este tipo de problema eu nunca passei", diz, enfática. "No esporte, não vejo este tipo de coisa", afirma.
E olha que Fabiana, nestes seus 13 anos de vôlei, vem convivendo com muita gente, entre anônimos e famosos. Da oportunidade de ingressar no volei profissional, aberta pelo clube mineiro no início dos anos 2000, a atleta fez a ponte para mais três outras agremiações esportivas. Em 2003 ingressou no Rexona-Ades e, seis anos depois, em 2009, teve o passe transferido para o Unilever. Em seguida, a meio de rede passou a defender, nas quadras, as cores da equipe Vôlei Futuro. Troca-trocas profissionais realizados antes e depois de ela passar a integrar a elitizada equipe de atletas que representa o Brasil pelo mundo. A partir de então, tem viajado muito e enfrentado plateias de diferentes nacionalidades. "Mas apesar de a minha experiência ser outra, concordo com a existência da invisibilidade dos negros em nosso país", continua a falar a bela mineira. "É muito difícil ver, no Brasil, um negro se destacando", comenta.


"NÃO TENHO MUITO TEMPO PARA SAIR, CURTIR, ESTOU SEMPRE VIAJANDO. TER UMA COISA MAIS SÉRIA É DIFÍCIL"


Fabiana Claudino também acredita que, assim como o esporte lhe ofereceu ascensão profissional e financeira, além de realização pessoal e prestígio, o mesmo pode acontecer com muitos outros meninos e meninas brasileiros. "Eu me sinto uma vencedora. Tenho muita vontade de jogar, assim como de ajudar as crianças, os jovens. Admiro muito os projetos sociais baseados no esporte. Esporte traz saúde, disciplina, entre outros ganhos. Acho importante o trabalho que visa tirar as crianças da rua, por exemplo,", diz a atleta, que se mostra tão bonita de corpo, quanto de alma. E com estes atributos tão encantadores, a quantas anda a vida amorosa da moça? "Eu sou solteira e minha vida não é assim tão simples", ela avisa, sem se esquivar do assunto. "Não tenho muito tempo para sair, curtir, estou sempre viajando. Acontece muitas vezes de as pessoas se aproximarem da gente, por amizade, por admiração e também demonstrando interesse. Trocamos e-mail, telefone, mas depois para ir ao cinema é difícil. Ter uma coisa mais séria é difícil mesmo", avalia a atleta.
Enquanto a vida profissional cheia de compromissos não facilita as coisas para a "gata" Fabiana, ela segue seu destino sem mágoas ou lamentos. "O esporte é o caminho dos sonhos, do qual você não pode nunca desistir. Tem que seguir lutando, ganhando ou perdendo", diz a bela, num recado explícito às novas gerações de desportistas. Na verdade, uma mensagem cheia de esperança, estímulo e sabedoria para todos os brasileiros
http://racabrasil.uol.com.br/cultura-gente/159/nossa-musa-do-pan-posar-para-a-playboy-eu-238854-1.asp
Capoeira
  "A capoeira é a minha vida"
Tonho Matéria é cantor, compositor e agitador cultural, mas, principalmente, uma das grandes referências na arte da capoeira no Brasil

Por Marla Rodrigues | Fotos Mauricio Requião



 
Em Salvador, pergunte por Antonio Carlos Gomes Conceição. É certo que a maioria das pessoas não vai associar a imagem ao nome. Agora, procure por Tonho Matéria, músico e capoeirista que tem mais de 300 músicas gravadas por grandes nomes, como Daniela Mercury, Chiclete com Banana, Olodum e Beth Carvalho, entre outros, e que desenvolve trabalhos sociais levando a arte da capoeira e todas as suas boas consequências para crianças, jovens e adultos de Salvador. Pronto, achou! Tonho Matéria é o que podemos chamar de uma figura popular da cidade. Destaque à frente de dois dos grandes blocos afros de Salvador, ele inovou ao levar para os palcos uma performance, digamos, capoeira/musical, união perfeita da batida e ritmo fortes do axé, com a ginga e a atitude da capoeira. Dessa forma, ganhou o mundo, com apresentações na França, Grécia, Austrália, nos Estados Unidos, em Moçambique e na Itália.
Em 2001, fundou a Associação de Capoeira Mangangá, que incentiva a prática da capoeira como instrumento de inclusão social, fortalecimento da cultura e educação para a cidadania, resgate do orgulho étnico e de afirmação identitária. O sucesso de Tonho como artista está diretamente ligado à capoeira.

"PARA MIM, A CAPOEIRA É LUTA DE RESISTÊNCIA ATIVA, É A CULTURA QUE ANDA, É A MINHA ALIMENTAÇÃO, MEU REFÚGIO, MEU TUDO, MEU EQUILÍBRIO COMO HOMEM, CIDADÃO, PAI, ALUNO E MESTRE"

Divulgação
Quando a capoeira surgiu em sua vida?
Em 1975, através de um disco do mestre Caiçara e outro do mestre Suassuna. Comecei a escutar o som da capoeira através de um vizinho, o "Seo" Popó, que todos os domingos tocava esses discos, era uma overdose aquilo lá, e eu adorava ficar ouvindo. Com 12 anos, comecei a treinar capoeira. Ela entrou na minha vida assim, meio que de brincadeira. Aos domingos, juntava uns meninos e ficava jogando sem me preocupar se estava fazendo certo ou errado. Íamos descobrindo a ginga. Depois, meu compadre Tico, que morava em frente à minha casa, me iniciou na capoeira.
Quem foi o seu primeiro mestre?
Foi o mestre King Kong. Naquele tempo não existia esse negócio de formar, existia o batizado de mestre Bimba, que não cheguei a conhecer, porque quando cheguei, ele já havia morrido. Conheci o mestre Pastinha, mas também não convivi com sua capoeira, pois seu tempo era outro. Com 16, 17 anos, já com quatro anos de capoeira, comecei a cantar e me envolver com a música no bloco afro. Em 1984, como cantor do Araketu, aplicava a capoeira nos palcos e o pessoal enlouquecia. A partir daí, não deixei mais de fazer essa associação de cantar e jogar capoeira.
O que é ser um verdadeiro mestre de capoeira?
É ir além de tocar um berimbau, jogar as pernas pra cima e de tocar um pandeiro. Ele tem que estar preparado para a vida, tem que se respeitar e respeitar as diversidades, entender a formação cultural, social e econômica para ajudar aquele aluno que não tem dinheiro para comprar nem sequer um fardamento ou até mesmo se alimentar.
Atualmente é mais fácil ser mestre?
Hoje em dia é bem mais fácil ser "bestre", é só o aluno ser bonzinho para o mestre (risos). Agora existe uma informalidade dentro das hierarquias da capoeira e, nem bem o aluno se gradua, já quer ser mestre. É uma pena quando se pensa desta forma. Pensar em corda é acordar para a vida. Antigamente era muito difícil se constituir como mestre de capoeira. Hoje, em cada esquina tem um.
Você é contra ou a favor das "rodas de rua"?
Sempre a favor! Hoje não existem mais muitas rodas de rua e sim muitos grupos fazendo rodas nas ruas, ou seja, uma capoeira livre, sem estereótipos, sem obrigações com o que é certo ou errado.
Capoeira
  "A capoeira é a minha vida"
Tonho Matéria é cantor, compositor e agitador cultural, mas, principalmente, uma das grandes referências na arte da capoeira no Brasil

Por Marla Rodrigues | Fotos Mauricio Requião




O que você pensa sobre aquele aluno que se acha muito bom, se considera um mestre e forma seu próprio grupo?
Cada um deve criar seu próprio caminho, portanto, acho essa postura certa. Errado é você criar o aluno, ele sair do grupo e depois ficar te criticando por não ter uma referência própria.
Vale a pena ensinar capoeira para quem só quer um esporte, lazer ou terapia?
Sim, todo tipo de prática com a capoeira é sempre é bom. Ela desenvolve a capacidade de pensar do indivíduo em qualquer instância.
E a divulgação da capoeira, como está?
As federações de capoeira não têm força, os capoeiristas não ajudam estas instituições a crescer e representá-los institucionalmente. O capoeirista tem um ego enorme e isso atrapalha o desenvolvimento destas organizações. Em minha opinião, acho que temos que trabalhar no coletivo e com um único objetivo: fazer a capoeira ser realmente uma arte legalizada e respeitada pelas sociedades civil e governamental.
Você fundou, em 2001, a Associação de Capoeira Mangangá. Fale um pouco sobre este trabalho.
É uma instituição sem fins lucrativos que promove ações afirmativas voltadas ao bem- estar dos seus associados, atendendo uma faixa etária de 3 a 40 anos, sem discriminação de gênero, etnia ou classe socioeconômica. Buscamos assegurar às crianças, aos jovens e adultos - moradores em bairros periféricos da cidade do Salvador e região metropolitana - por meio do aprendizado e prática da capoeira, a oportunidade de conhecimentos que proporcionem a eles uma formação como indivíduos, a construção de sua cidadania e a elevação de sua autoestima. É um projeto social com muitas vertentes.
Outra iniciativa sua é o Encontro Cultural e Intercâmbio Internacional de Capoeira Mangangá.
Este projeto cria parcerias com mestres e grupos de capoeira e projetos culturais de diversos países. No encontro, além das rodas de capoeira, acontecem palestras, workshop, debates, oficinas, mostra de vídeo, exposição fotográfica, passeios turísticos e culturais, batizado e formatura de capoeira. Foi realizado no mês de agosto nas cidades de Salvador, Cachoeira, São Felipe, Dom Macedo Costa, Morro de São Paulo e Simões Filho. Recebemos convidados de mais de quinze países que vieram participar do evento e intercambiar in loco diversas experiências.
Você é cantor, compositor e um influente agitador cultural, mas, sem a capoeira, nada disso existiria em sua vida. É isso mesmo?
A capoeira é a minha vida, sou um profissional da capoeira. E não escolhi este esporte, ela me escolheu, me viu menino jogando nas esquinas do meu bairro, Pau Miúdo. Para mim, a capoeira é luta de resistência ativa, é a cultura que anda, é a minha alimentação, meu refúgio, meu tudo, meu equilíbrio como homem, cidadão, pai, aluno e mestre. A capoeira pra mim só será um hobby quando eu concretizar todos os meus sonhos e tornar vivas e reais as minhas missões. Será um estilo de vida quando eu não mais precisar dela para lutar contra o preconceito, a discriminação, a falta de oportunidade para meus meninos negros da Associação Cultural de Capoeira Mangangá e de outras associações.
http://racabrasil.uol.com.br/cultura-gente/159/artigo238857-2.asp