domingo, 11 de dezembro de 2011

O feminismo negro e a outra "universalização" das mulheres


Somos descritas como aquela “submulher” que serve de oposição ao ideal do descendente europeu de “fêmea fria”.  A bunda grande em oposição ao seio farto. Porém, ainda assim, seja como bunda ou seio, nossa condição de objeto sexual é uma elaboração complementar do corpo feminino como propriedade masculina.  Segundo Sueli Carneiro existe nas Américas uma condição histórica que determina “a relação de coisificação dos negros em geral e das mulheres negras em particular”. A condição binária do estupro e da prostituição, ou seja, “a apropriação social das mulheres do grupo derrotado” é um dos fatores primordiais do patriarcado, e foi através destas duas condições que se construiu a hipersexualização da mulher negra. 

Drª Sueli Carneiro

Como ideologia somente, o mito sexual da mulher negra não se sustenta sem a divisão econômica e racial que atravessa toda a questão citada acima, na burguesia, a sexualidade não encontra a mesma dupla moral imposta às classes populares. O permitido (prostituição simbólica e naturalização da violência sexual sobre as mulheres negras) e o proibido (castração da sexualidade branca) encontram-se complementares, apesar de opostos, pois é a contradição sustentada sobre as mulheres que mascara a opressão sexual de gênero na qual somos todas, objeto de manipulação masculina. 


No fundo a coisificação hipersexual da mulher negra é uma evoluida variação da histórica exploração sexual das mulheres imposta pelo patriarcado, pois evita os gastos da prostituição instituida e faz com que os homens não incorram na punição designada pelo ato estupro.  Como escreveu Sueli Carneiro:

“Enegrecer o movimento feminista brasileiro tem significado, concretamente, demarcar e instituir na agenda do movimento de mulheres o peso que a questão racial tem na configuração, por exemplo, das políticas demográficas, na caracterização da questão da violência contra a mulher pela introdução do conceito de violência racial como aspecto determinante das formas de violência sofridas por metade da população feminina do país que não é branca; introduzir a discussão sobre as doenças étnicas/raciais ou as doenças com maior incidência sobre a população negra como questões fundamentais na formulação de políticas públicas na área de saúde; instituir a crítica aos mecanismos de seleção no mercado de trabalho como a boa aparência, que mantém as desigualdades e os privilégios entre as mulheres brancas e negras. (...) A utopia que hoje perseguimos consiste em buscar um atalho entre uma negritude redutora da dimensão humana e a universalidade ocidental hegemônica que anula a diversidade. Ser negro sem ser somente negro, ser mulher sem ser somente mulher, ser mulher negra sem ser somente mulher negra. Alcançar a igualdade de direitos é converter-se em um ser humano pleno e cheio de possibilidades e oportunidades para além de sua condição de raça e de gênero. Esse é o sentido final dessa luta. 

http://esperanca-garcia.blogspot.com/2011/11/dificil- condicao-sexual-da-mulher-negra.html

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