terça-feira, 18 de outubro de 2011

  Nossa musa do Pan!
"Posar para a Playboy? Eu? Não, não!", responde bem- humorada a capitã da seleção brasileira de voleibol feminino, Fabiana Marcelino Claudino, rindo, meio acanhada, meio divertida, com a pergunta quase inevitável. Afinal, ao se conhecer pessoalmente a jovem atleta, não dá para conter a curiosidade. Fabiana é, de fato, linda e exuberante nos seus 26 anos e 1,93 de altura.

Por Sandra Almada | Ensaio Marcos Serra Lima



Portanto, fica difícil não se pensar nas outras chances que certamente ela teria fora das quadras do esporte que a tornou mundialmente conhecida. "Sou uma menina muito religiosa, católica. Não me sentiria bem, não é a minha cara", continua a falar, ainda risonha, a moça que nasceu e cresceu na cidade de Santa Luzia, em Minas Gerais


Fabiana Claudino exibe, entre os títulos conquistados, o de campeã olímpica nos Jogos de Pequim, em 2008, e comanda a seleção considerada uma das mais fortes do planeta. E, se posar nua não é a dela, quando o assunto é sua própria beleza, Fabiana admite outras possibilidades. "Mas é claro que aceitaria trabalhar como manequim, como modelo. Na verdade, adoraria. E acho que dá pra conciliar as coisas", assume, num tom de voz sugestivo, jeito brejeiro, e que parecem deixar no ar a mensagem: "estou aguardando propostas". Enquanto uma carreira paralela ao vôlei não deslancha, a atleta acumula sucesso e muito trabalho nas quadras.. Este mês, Fabiana é um dos destaques da seleção feminina de volei que disputa os jogos Pan-Americanos de Guadalajara, no México. Agora, conheça mais sobre a nossa "Musa do Pan". Uma jovem mulher negra, forte, determinada, exuberante, consciente e talentosa. Ah, sim, e com grandes chances de virar top model.

"O ESPORTE É O CAMINHO DOS SONHOS, DO QUAL VOCÊ NÃO PODE NUNCA DESISTIR. TEM QUE SEGUIR LUTANDO, GANHANDO OU PERDENDO"


Uma liderança
Econômica nas palavras, mas expansiva em simpatia, Fabiana conversa com a repórter da RAÇA BRASIL enquanto coloca as últimas peças na mala antes de seguir para o aeroporto. A jogadora está hospedada na casa dos pais, em Belo Horizonte, curando-se de um forte resfriado. O voo que sairá de Confins tem como destino o Rio de Janeiro. Depois de aterrissar na cidade em que mora há anos, Fabiana seguirá para Saquarema, na região dos Lagos. Lá, no centro de treinamento da seleção brasileira, a atleta se juntará às demais jogadoras. Foram, aliás, estas mesmas "meninas" que decidiram, por voto secreto, que Fabiana deveria capitanear, na quadra, a equipe. "Eu sabia que gostavam de mim, mas confesso que fiquei surpresa com esta votação", admite, com humildade, a "meio de rede", posição que a jogadora ocupa no time, cujas funções são, simultaneamente, o ataque e o bloqueio. "Tinha ideia da confiança que depositavam em mim, mas mesmo assim não achava que seria escolhida para liderar a equipe", reafirma a atleta. Para os não familiarizados com o mundo dos esportes, vale explicar que, escolher o líder de um time é o tipo de decisão que cabe, de modo geral, aos técnicos. Em 2010, entretanto, José Roberto Guimarães, atual dirigente da seleção de vôlei feminino, resolveu mudar as regras do jogo. Com isto, Fabiana ganhou a tarja de comando que usa presa num dos braços durante os jogos. Perguntada sobre quais de suas qualidades ela acha que contaram para ser eleita a líder da seleção brasileira, Fabiana exibe humildade: "Acho que foi a alegria, o meu jeito: gosto de brincar, de me divertir. Eu brinco muito com todas as meninas dentro da quadra. Se eu puder dar este conforto, esta alegria, fico feliz. Quem deve ficar estressado é o técnico, não as jogadoras", brinca, dando um belo exemplo daquilo que, no mundo do trabalho, é considerada uma qualidade das mais elogiáveis: a "inteligência emocional". Capacidade de controlar as emoções e usá-las na dose certa em momentos de tensão, de decisões importantes. As meninas do vôlei brasileiro pensaram nisto na hora de escolher a amiga "Fabizona" - apelido da atleta - como capitã.


"EU, JÁ NA 8ª SÉRIE, NÃO CONSEGUIA FREQUENTAR A ESCOLA TODOS OS DIAS. TAMBÉM NÃO CONSEGUI CONCLUIR NEM O SUPLETIVO. MAS ESTUDAR É UMA COISA QUE EU GOSTARIA DE CONTINUAR"


Fabiana, com 5 anos
Talento precoce
É bem verdade também que a experiência conta muito na escolha de um líder. E Fabiana Claudino vem acumulando disputas de finais de campeonatos importantes há oito anos, tempo em que integra o seleto quadro de jogadoras da equipe maior do vôlei nacional feminino. Foi em 2002 que a central ingressou na seleção brasileira, com seus tenros 18 anos. A carreira de desportista havia começado cinco anos antes, em 1998, quando a filha de Seu Vidal e Dona Maria do Carmo conseguiu, com apenas treze anos de idade, uma vaga na equipe de voleibol do Clube MVR, em Minas Gerais. "Foi dali que comecei a jogar vôlei. E nem fiz teste, já que, por causa da altura, eles se interessaram logo por mim. Só pediram para eu levar a (carteira de) identidade", lembra Fabiana, que, aos 15 anos, mesmo ainda pertencendo à equipe infantil do MVR, "já entrava em quadra para treinar com as atletas adultas."

Também no caso de Fabiana, como no de todos os grandes atletas, o sucesso nas quadras cobraria um preço alto. Entre saques, cortadas, manchetes, bloqueios e levantamentos, a pré-adolescente - que ganharia, em 2009, o título de "Melhor Levantadora do Grand Prix - costumava cumprir uma árdua rotina de treinamentos diários. "Eu, já na 8ª série, não conseguia frequentar a escola todos os dias. Também não consegui concluir nem o supletivo. Mas estudar é uma coisa que eu gostaria de continuar." E que curso gostaria de fazer a capitã brasileira? "Psicologia infantil", diz Fabiana, sem titubear.

  Nossa musa do Pan!
"Posar para a Playboy? Eu? Não, não!", responde bem- humorada a capitã da seleção brasileira de voleibol feminino, Fabiana Marcelino Claudino, rindo, meio acanhada, meio divertida, com a pergunta quase inevitável. Afinal, ao se conhecer pessoalmente a jovem atleta, não dá para conter a curiosidade. Fabiana é, de fato, linda e exuberante nos seus 26 anos e 1,93 de altura.

Por Sandra Almada | Ensaio Marcos Serra Lima



Estímulo e cuidados na infância
No Brasil, uma boa parcela dos pais de atletas negros vê no esporte a saída para uma infância pobre e sem muitas perspectivas de futuro para os filhos. Mas este não foi o caso de Seu Vidal e Dona Maria do Carmo. "Graças a Deus, na infância, nunca me faltou nada!", admite Fabiana. Nem a ela, nem ao irmão Bruno, que hoje, aos 29 anos, mora e trabalha nos Estados Unidos. Mas os pais avisavam à menina que era bom tomar cuidado com o mundo. Assim como lhe advertiam: "Você é negra, precisa andar sempre bem arrumadinha", conta a moça. Será que não foi de todo este cuidado com a aparência e da vaidade estimulada na infância que fez surgir, na mulher Fabiana, o atual desejo de exibir sua beleza nas passarelas e páginas de revista? "Eu queria ser modelo desde muito novinha. E as pessoas estimulavam isto", relembra sorridente a atleta. "Agora, mais recentemente, o fotógrafo Marcos Serra Lima me disse: 'Você tem que fazer um ensaio'. E era isto mesmo o que eu queria: fazer um book", confessa a jogadora, que posou para as lentes de Marquinhos feliz da vida. E agora, com o book de baixo do braço, já pode dar os primeiros passos na direção de seu sonho de infância.



Abaixo: Aos 17 anos, no MRV Minas e campeão mundial juvenil; e em dois momentos de ouro (com a medalha, logo após a nal olímpica, e na chegada ao Brasil
Acima, Fabiana, o irmão Bruno, e os pais, Vidal e Maria do Carmo. Momento em família

Seja como mulher ou como promissora profissional das passarelas, para Fabiana manter o corpão de tirar o fôlego, o vôlei tem sido um aliado e tanto. Os treinos e a performance nas quadras dão à moça pernas, bumbum e braços fortes e muito bem torneados. Já a pele, Fabiana entrega aos cuidados da prestigiada dermatologista Katleen Conceição. Mas não é só sob orientação médica que a atleta desenvolve seus rituais de beleza. A jogadora confirma ter hábitos semelhantes aos da jornalista Glória Maria, outra aficionada por cremes, a ponto de, dizem, ter uma geladeira cheia deles. "Também sou assim", confessa Fabiana. "Sou muito vaidosa. Gosto de cuidar da minha pele, de usar muitos cremes. Tenho muita coisa na bolsa", acrescenta.


A invisibilidade dos negros brasileiros
Bem-sucedida na carreira, no final deste ano, a meio de rede vai se despedir do Brasil. Não pra sempre, é claro. A ausência dura o tempo em que vigorar um novo contrato em terras estrangeiras. Ela vai rumar para Istambul, na Turquia, para jogar no Fenerbahçe Acibadem, time que será comandado pelo técnico brasileiro José Roberto Guimarães, o mesmo que treina as meninas da atual seleção brasileira. "Foi maravilhoso ter recebido este convite do clube, assim como poder trabalhar ao lado de alguém que a gente conhece e em quem confia". A carreira internacional, aliás, sempre foi um sonho para esta grande atleta. Ela sabe que merece o que vem recebendo em termos de reconhecimento e salários generosos, digamos assim. "Estou muito bem de vida. Não vou mentir", ela afirma, entre risos, sem esconder a satisfação com o próprio êxito. "Agradeço a Deus pelo que me deu até hoje. E pretendo continuar prosseguindo, me empenhando, lutando sempre."

Mas será que tudo são flores no caminho de uma atleta negra? A cortadora antecipa que, apesar das advertências dos pais na infância, ela nunca sofreu na pele a discriminação racial, nem dentro nem fora das quadras. "Sinceramente, nunca sofri racismo na minha vida. Este tipo de problema eu nunca passei", diz, enfática. "No esporte, não vejo este tipo de coisa", afirma.
E olha que Fabiana, nestes seus 13 anos de vôlei, vem convivendo com muita gente, entre anônimos e famosos. Da oportunidade de ingressar no volei profissional, aberta pelo clube mineiro no início dos anos 2000, a atleta fez a ponte para mais três outras agremiações esportivas. Em 2003 ingressou no Rexona-Ades e, seis anos depois, em 2009, teve o passe transferido para o Unilever. Em seguida, a meio de rede passou a defender, nas quadras, as cores da equipe Vôlei Futuro. Troca-trocas profissionais realizados antes e depois de ela passar a integrar a elitizada equipe de atletas que representa o Brasil pelo mundo. A partir de então, tem viajado muito e enfrentado plateias de diferentes nacionalidades. "Mas apesar de a minha experiência ser outra, concordo com a existência da invisibilidade dos negros em nosso país", continua a falar a bela mineira. "É muito difícil ver, no Brasil, um negro se destacando", comenta.


"NÃO TENHO MUITO TEMPO PARA SAIR, CURTIR, ESTOU SEMPRE VIAJANDO. TER UMA COISA MAIS SÉRIA É DIFÍCIL"


Fabiana Claudino também acredita que, assim como o esporte lhe ofereceu ascensão profissional e financeira, além de realização pessoal e prestígio, o mesmo pode acontecer com muitos outros meninos e meninas brasileiros. "Eu me sinto uma vencedora. Tenho muita vontade de jogar, assim como de ajudar as crianças, os jovens. Admiro muito os projetos sociais baseados no esporte. Esporte traz saúde, disciplina, entre outros ganhos. Acho importante o trabalho que visa tirar as crianças da rua, por exemplo,", diz a atleta, que se mostra tão bonita de corpo, quanto de alma. E com estes atributos tão encantadores, a quantas anda a vida amorosa da moça? "Eu sou solteira e minha vida não é assim tão simples", ela avisa, sem se esquivar do assunto. "Não tenho muito tempo para sair, curtir, estou sempre viajando. Acontece muitas vezes de as pessoas se aproximarem da gente, por amizade, por admiração e também demonstrando interesse. Trocamos e-mail, telefone, mas depois para ir ao cinema é difícil. Ter uma coisa mais séria é difícil mesmo", avalia a atleta.
Enquanto a vida profissional cheia de compromissos não facilita as coisas para a "gata" Fabiana, ela segue seu destino sem mágoas ou lamentos. "O esporte é o caminho dos sonhos, do qual você não pode nunca desistir. Tem que seguir lutando, ganhando ou perdendo", diz a bela, num recado explícito às novas gerações de desportistas. Na verdade, uma mensagem cheia de esperança, estímulo e sabedoria para todos os brasileiros
http://racabrasil.uol.com.br/cultura-gente/159/nossa-musa-do-pan-posar-para-a-playboy-eu-238854-1.asp

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